segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Acendendo a luz

    Vivo tendo idéias. Algumas boas, outras estranhas, estapafúrdias, cabeludas, de jerico ou até ruins mesmo. De vez em quando puxo do meu papel virtual e discorro sobre algumas delas. Até aí tudo bem. Só que o que está ficando chato é essa mania que meu papel virtual pegou de querer tirar o acento das minhas idéias.
    Reformas ortográficas à parte, sou uma pessoa que conviveu muito tempo com as idéias acentuadas. "Ah, mas o acento de idéia caiu", diriam os gramáticos. Não das minhas. Contrui um forte ao redor delas, com direito a fosso com jacaré dentro e tudo mais, e estamos resistindo. Não caímos ainda, eu e o acento das minhas idéias. Não enquanto nossa cidadela resistir.
    Como é que pode uma máquina estúpida (por mais inteligente que seja ainda é uma máquina estúpida, pois só faz o que lhe é mandado fazer) querer saber mais do que eu, que falo e escrevo a língua a tanto tempo? Falo errado e escrevo mal? Problema meu, a língua é minha, o falar e o escrever são meus. Se a conversa é ruim e o escrito falho, não é meu computador que tem que ficar tolhendo os meus sotaques e minhas idéias. O importante é o entendimento do interlocutor. Caso este não entenda, pouco lhe faço caso então.
    Tudo bem, uma ajuda sempre é válida e ter à mão um corretor ortográfico e um pai dos burros sempre vem a calhar. O problema é quando a ajuda começa e se tornar intromissão. Estou pensando seriamente em voltar para o par papel-caneta ou procurar uma máquina de escrever das antigas. Uma vez um colega, pra tirar sarro de outro que cometeu gafe ortográfica numa prova de faculdade, disse exatamente: "professora, o Mauro sai escrevendo e, se não aparecer um risquinho vermelho embaixo, tá certo." Eu já cheguei no ponto de ignorar o risquinho vermelho. Não que me considere um ás da língua. Muito pelo contrário. Mas não é nada confortável ter que mudar de idéia (ou de ideia) porque alguém resolveu que ela não mais se acentuaria. Ou aguentar uma máquina te lembrando a toda hora que você tá errado, que sua escrita tá ultrapassada e não é assim mais.
    Pois que seja então. Eis que as minhas idéias, ou quaisquer outras por boas ou más que sejam, devem tomar acento. Posto que luminosa, uma ideia precisa comer muito angu para se tornar uma idéia. Assim como o almoço de D. Jandira merece um descanso para que a comida tome assento, uma boa idéia precisa tomar acento para que se justifique.
    E uma cachacinha antes, que é pra iluminar o pensamento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário